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DORSAL ATLâNTICA LYRICS

Dividir & Conquistar

"Dividir & Conquistar" (1988)

1. Tortura
2. Vitória
3. Violência é Real
4. Metal Desunido
5. Lucrécia Bórgia
6. Morador das Ruas
7. Velhice
8. Preso ao Passado







1. Tortura

Culpa, capuz, oficina, nudez
Terror, sessão, porrada, sevícia
Pensou em Deus, na mulher, nos filhos
Ninguém vem, ninguém sabe

Todos que suportaram a tortura mentem
E os que não puderam suportar mentem também
O medo da dor é mais forte que a própria dor
Tortura não passa de um ato sexual

Tormentum, ignis, famis, sitis
O carrasco espera, sorri, demora
A pele do lobo como a pele do cordeiro
E ninguém vence durante o tempo todo




2. Vitória

Eu fazia força para entender
Porque as coisas tinham que ser assim
E não de outra maneira
Vivendo coincidências
Acontecendo, tudo serviu de lição

Quase desisto, mas quando olho para trás
E vejo o que construí
Um sentimento inabalável como história
Certo da vitória

Me senti como uma arma descarregada
Para enfrentar os animais
Não preciso de balas
Os cães latem porque estão mortos

Nascemos com a missão de fazer um sonho viver
Mesmo com pessoas e pedras fechando o nosso caminho
Fazem necessário que não tenhamos nenhuma paz
Porque a alma descansada não brilha jamais
Inabalável
Certo da vitória




3. Violência é Real

As coisas começam sem saber direito o porquê
Hoje você passa e não vê
Que amanhã vai ser você a próxima vítima
Que não tem culpa dessa situação

Viajando na estrada, um ruído seco
Dentro de um ônibus atiraram em um inocente
Por pura ignorância
Ninguém esperava sentir como a vida é tão fugaz
E a morte ronda todo cheiro de carniça

Primeiro dia do ano novo
Primeiro dia de nossas velhas vidas
A realidade consegue ser
Pior do que a pior de nossas fantasias
Você sente que isso ainda não te atinge
Se sente seguro em um casulo de seda

Os passageiros se organizaram e socorreram o ferido
Sem nunca terem se encontrado antes
Um temeu pelo outro

Você descobre o que é solidariedade nos momentos mais difíceis
Pelo menos uma vez eu tive esperança
E como é bom acreditar nisso

Até quando vai durar
Esperar morrer para agir?
Lutar, nossa obrigação para mudar
Não é história, cara
Violência é real

Esses exemplos do presente precisam mudar o rumo do futuro
Terminar bem aliviou nossas almas mas deixou uma questão no ar
Se deixarmos ficar como está
Nossa vez também vai chegar
Porque o que destrói a raça humana é a incompreensão de ser humano




4. Metal Desunido

Metal Desunido

Ambições pessoais são armas poderosas
Cegos se deixam levar, cada tem sua verdade
História muito velha, já aconteceu outras vezes
Eu sei, eu vou ver de novo tenho certeza
Vocês, não sei

Metal Desunido

Ambos os lados da moeda se igualam, todos lutam entre si
Fazem o mesmo, distorcem a verdade
Mentem para os outros, mentem para si
Não sigo suas regras, não sigo ninguém, vive tua vida
Dono da verdade, deixa viver a minha

Metal Desunido

Vocês não vêem, estão criando seu próprio sistema
Se enforcam com a própria corda sem perceber
Cavaram o próprio túmulo, estão se enterrando nele
Feito serviçais seguem o mestre dos fracos
Mentem e se iludem, falsas convicções
Absolutas certezas baseadas em nada
Alicerces sustentados em areia

Metal Desunido
Vai se matar, vai se destruir




5. Lucrécia Bórgia

Lucrécia Bórgia

Filha de um Papa, nasceu para fazer parte de um jogo
Teve que pagar um preço muito caro por tudo isso

Educada como toda mulher para obedecer
E casou com quem fosse conveniente

Alianças políticas para fortalecer o poder dos Bórgia

Comentavam pelas ruas sobre incestos com os irmãos e o pai - o Papa
Assassinos e corruptos impunes sob a sombra de Deus e o Vaticano

Lucrécia queria amar e viver
Invejosos difamaram seu nome
Como se não bastasse o sofrimento
De ver o marido estrangulado pelo irmão César
Ela era apenas uma peça sendo usada até o final

Visões da morte

O rio Tibre se banhou de sangue de um Bórgia
Morto por outro Bórgia, os dois irmãos
Todos sabiam que César era culpado, mas ele tinha o poder
O povo dizia que os motivos eram ciúmes da irmã
Da própria irmã

Visões da morte

Uma rede de intrigas fortalecia o poder, os Bórgia
Traíam quem quer que fosse, não havia limites
Para alcançar todos os objetivos
Lucrécia teve o poder de Roma nas suas mãos
Teve todos os homens aos seus pés
Todos os artistas a sua volta
Todo o poder do mundo ao seu redor




6. Morador das Ruas

Morador das Ruas

Bebendo sem parar, as horas não passam
E respirando o ar gelado entre prostitutas,
Travestis, desocupados,
Cheiro de luxúria e cerveja me entorpecem
Chuva bate forte no chão quente, o cheiro de asfalto
Entre você e eu só existe a noite
E a vontade de nos encontrar
Essa estranha sensação de abandono fica solta no ar

Encontro sem hora marcada
Esse ruído insistente de silêncio
Ligados pelo mesmo sentimento final

Esquinas, ruas mudas, espreitando em silêncio
Ouvindo-nos andar e arfar

Morador das Ruas

Precisa ser livre, não se sentir preso a nada e ficar
Apenas o mundo sem obrigações
O próprio reinado do morador das ruas
Só, viver, livre, agora

Se essas ruas pudessem ser minhas
Eu poderia abraça-las
Senti-las vivas pulsando
Sugando a vida de quem passa nelas
Ou se quisesse destruir tudo como um crime passional
Para que isso? Por que não ir embora e esquecer?
Estou aqui sei que vou ficar, porque aqui é meu lugar




7. Velhice

Velhice

Se eu não trabalho então eu não existo
Se eu não servir de produção, estou morto estando vivo ?
Não é assim que vocês raciocinam ?
Penso que ainda existe vida nos retratos amarelos

Eu vejo, eu falo, eu ouço, eu penso
Sou carne viva, sangue circulando
Tenho sentimentos até mesmo na velhice

A dor de querer e tentar ser útil
e ninguém prestar atenção
Eu me sinto como um retrato amarelo

Não quero que tenham dó de mim
Eu não preciso desse tipo de caridade
Mãos enrrugadas, trêmulas, proféticas incomodam
e parecem carregar uma peste sem cura

Velhice é uma criança que retorna e preocupa
Amigos se vão, o pano cai, a peça sai de cartaz
Ser esquecido na poltrona do canto da sala
paisagem adormecida de uma vida longínqua
lembranças minhas que não interessam à ninguém
Meu maior erro foi acreditar que o meu jardim nunca
iria envelhecer.




8. Preso ao Passado

Preso ao Passado

Lugares fazem lembrar cheiros, movimentos, pessoas
De onde vem esse medo de continuar
É mais fácil viver para trás

Passado, quanto mais caminho mais decepções

A vida prega peças e essa é uma delas
Vivendo e não aprendendo, difícil não se emocionar
As coisas ruins do passado tendem a esquecer
Só lembram das coisas boas
É uma ilusão, mas quem não gosta?

Preso ao passado, continua a viver
Com tédio do presente
E receio do futuro

 


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